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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Pacto

Na quarta, fazendo minha derradeira compra de Natal, não resisti à tentação de entrar na livraria e conseguir algo para levar comigo nas férias. Certamente isso soará compulsivo assim que descobrirem que ganhei 4 livros no meu aniversário mês passado e que me dei outros 6 nessa mesma ocasião. Mas, sabem como é, livros nunca são demais e toda vez que compro um, outro fica faltando. Nesse dia, em particular, esperava comprar Sally e a Sombra do Norte, do Philip Pullman; mas eis que numa geral pela loja uma capa vermelha com um tridente me chamou a atenção. JOE HILL em letras grandes e amarelas. O PACTO, logo abaixo. Oba!

Já havia lido A Estrada da Noite e Fantasmas do Século XX. Achei o primeiro ótimo, li todo o livro como se fosse um filme, com cenas nítidas em minha cabeça, com atores escalados e cenários prontos. O segundo, um livro de contos, tem altos e baixos, mas consegue assustar em alguns momentos e ser singelo em tantos outros. Mas, quanto ao Pacto, só sei que não consigo parar de lê-lo.

Antes de escrever sobre o livro, vale a pena falar sobre seu autor. Para quem não sabe, Joe Hill é, na verdade, Joseph Hillstrom King. Isso mesmo... King. O cara é filho do Stephen King! Atualmente tem 38 anos, três livros lançados e faz várias colaborações em histórias em quadrinhos. Além disso, matém um site http://joehillfiction.com/ , com informações que extrapolam seus livros; e pode ser encontrado no Twitter em @joe_hill (eu o sigo e ele é bem assíduo, sempre bem humorado). Agora, vejam essa foto e me digam se, assim como o pai, dá para acreditar que ele escreve livros de terror?! (Não que tenha que usar capa, tocar órgão e morar num museu de cera para isso.)


Mas, voltando ao Pacto... A idéia básica nem é original: um cara que vira um demônio (ou O diabo, ainda não sei porque estou na metade do livro). A gente já viu isso antes. Ok! Mas ele consegue ser original no desenvolvimento da idéia, nos "poderes" que o personagem principal passa a ter quando se descobre com chifres brotando de sua testa (nada de Hellboy aqui). Ao invés das pessoas ficarem aterrorizadas com essa imagem diante de si, todos simplesmente sentem uma compulsão por revelar seus pecados mais íntimos, seus pensamentos mais secretos, seus demônios trancados a sete chaves.
Se alguém nesse momento pensou que pode ser legal saber o que os outros pensam de verdade, talvez o fez por ser tão maravilhoso(a) que esteja imune à maldade humana; porque para Ignatius Perrish, acusado de estuprar e matar a mulher que amava, só há espaço para reflexões e descobertas carregadas de crueldade, rancor e ódio. É desesperador imaginar que as pessoas que você mais ama não acreditam em você. Pior ainda, saber tudo o que se passava em suas mentes enquanto sorrisos eram forjados e momentos eram compartilhados com nojo e relutância.
Ao encontrar sua avó, Vera, com quem se sentia tão bem, é isso o que Ig ouve: "Não posso ver nenhum dos meus amigos (...) Todos sabem o que você fez (...) Odeio quando saio com você e as pessoas nos veem juntos. Você nem imagina como é difícil fingir que não o odeio. Sempre achei que havia alguma coisa errada com você (...) Nem sei quantas vezes eu disse que você não era bom da cabeça".
Do padre de sua paróquia esse é o conforto que encontra: "... você quer que eu lhe diga o que fazer? Acho que você deve ir para casa e se enforcar. (...) Tem uma corda no almoxarifado atrás da igreja." Por que? "Porque você matou Merrin Williams (...) Eu tinha uma grande afeição por ela. Ela tinha uma bundinha linda, embora não fosse muito grande."
Isso tudo porque Ignatius Perrish aparentemente era um cara bem legal, acusado injustamente e inocentado por falta de evidências.
E por aí Joe Hill vai, jogando na nossa cara um balde de hipocrisia e um punhado de desconforto. E faz tudo isso num ritmo ágil. A cada fim de capítulo você sente necessidade de continuar e entender o que está acontecendo. Além disso, o livro é cheio de referências à cultura pop (à música em especial), escrito num estilo informal, quase como se estivesse conversando com você. E, em nenhum momento se preocupa com os clichês do terror, tanto que logo de cara já sabemos quem fez o quê. Aliás, assim como seu pai, Hill tem se mostrado excelente em captar as emoções humanas, em toda sua complexidade e confusão; causando identificação com os personagens e fazendo com que você logo esteja torcendo, se irritando, compreendendo todos eles.
Ainda nem acabei esse livro, mas Joe Hill já entrou na lista dos meus autores preferidos de terror/ficcção.

Ah, nesse mesmo dia comprei a trilogia Milennium, mas essa já virou moda, não precisa de post por enquanto.

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